sábado, 25 de abril de 2009

A IMPONTUALIDADE DO AMOR.

Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

Martha Medeiros

A saga de um vaqueiro.

Eu estava ouvindo uma coletânea de forrós antigos e uma das músicas era essa. Putz, teve uma magia quando eu ouvi a história. Não sei porquê, mas eu 'gamei' na letra. Compartilhando:

Vou pedir licença pra contar a minha história...
Como um vaqueiro tem suas perdas e suas glórias...
Mesmo sendo forte, o coração é um menino...
Que ama e chora por dentro, e segue o seu destino,
Desde cedo assumi minha paixão,
De ser vaqueiro, de ser um campeão,
Nas vaquejadas sempre fui batalhador,
Consegui respeito por ser um vencedor...

Da arquibancada uma morena me aplaudia,
Seus cabelos longos, olhos negros, sorria,
Perdi um boi naquele dia lá na pista, mas um grande amor surgia em minha vida...
Naquele dia começou o meu dilema,
Apaixonado por aquela morena,
Cada boi que eu derrubava, ela aplaudia
E eu, todo prosa, sorria...
Então começamos um namoro apaixonado,
Ela vivia na garupa do meu cavalo,
Meus planos já estavam, traçados em meu coração,
De tê-la como esposa ao pedir a sua mão,
Que tristeza abalou meu coração,
Quando seu pai negou-me sua mão,
Desprezou-me, por eu ser um vaqueiro,
Pra sua filha só queria um fazendeiro,

A gente se encontrava, sempre às escondidas,
E vivia aquele amor, proibido,
Cada novo encontro era sempre perigoso,
Mas o nosso amor era tão gostoso,
Decidimos então fugir, pra outras vaquejadas,
Queríamos seguir,
Marcamos um lugar, pra gente se encontrar,
Mas na hora marcada ela não estava lá,
Voltei em um galope,
Saí cortando vento,
Como se procura uma novilha, num relento,
E tudo em mim chorava por dentro...
E tudo em mim chorava por dentro...

Vieram me contar, que mandaram ela pra longe,
Onde o vento se esconde, e o som do berrante se desfaz
E um fruto do nosso amor,
Ela estava a esperar...
Fiquei desesperado,por tamanha maldade,
Pensei fazer desgraça, mas me controlei,
E saí pelo mundo, um vaqueiro magoado,
Só por que um dia eu amei...

Passaram muitos anos, e eu pelo mundo,
De vaquejada, em vaquejada, sempre a viajar,
Era um grande vaqueiro,mais meu coração, continuava a penar...

Um dia eu fui convidado, pra uma vaquejada,
Naquela região...
Pensei em não voltar lá, mas um bom vaqueiro,
Nunca pode vacilar,
Nunca mais soube de nada, do que lá acontecia,
Eu fugia da minha dor, e da minha agonia,
Ser sempre campeão, era a minha alegria,

Depois de dezessete anos, preparei-me pra voltar,
Como um campeão,
Queria aquele prêmio pra lavar meu coração,
Mas sabia que por lá, existia um vaqueirão,

Começou a vaquejada em uma disputa acirrada,
Eu botava o boi no chão, ele também botava,
Eu entrei na festa,
E ele lá estava,
Eu fiquei impressionado, como ele era valente,
Tão jovem e tão forte, e tão insistente,
Eu derrubava o boi,
E ele sempre a minha frente,
Chegava o grande momento, de pegar o primeiro lugar,
Os bois eram os mais fortes, ele não iria derrubar,
E sorri comigo mesmo "desta vez eu vou ganhaaar"...
Quando me preparava, para entrar na pista,
Quando olhei de lado, quase escureci a vista,
Quando vi uma mulher,
Aquela que foi a minha vida,
Segurei no meu cavalo, para não cair,
Tremi, fiquei nervoso, quando eu a vi,
Enxugando e abraçando,
O vaqueiro bem ali,


Entrei na pista como um louco,
O batisteiro a percebeu,
Andei foi longe do boi,
"Há isso nunca aconteceu!"
O Vaqueiro entrou na pista, e eu fiquei a observar,
Ela acenava, ela aplaudia,
E ele, o boi a derrubar,
Derrubou o boi na faixa,
Ganhou o primeiro lugar...

Fiquei desconsolado, envergonhado eu fiquei,
Perdi o grande prêmio,
Isso até eu nem liguei,
Mas perder aquele amor,
Há eu não me conformei,

Ela veio sorridente, em minha direção,
E trouxe o vaqueiro, pegado em sua mão,
Olhou-me nos meus olhos, falou com atenção:
"Esse é o nosso filho, que você não conheceu,
Sempre quis ser um vaqueiro, como você, um campeão,
E pela primeira vez, quer a sua Benção..."

Eu chorava, de feliz,
Abraçado, com meu filho,
Um vaqueiro, como eu, eu nunca tinha visto,
Posso confessar, "o maior prêmio,
Deus me deu..."


{Cantada pelo Forró Catuaba com Amendoim.}



Sâmia Maia

sábado, 18 de abril de 2009

Canção trovadora de amigo.

muitos podem dizer que não.
muitos podem dizer que, no máximo, talvez.
mas eu te digo: eu te amo.

te amo não sei de que forma.
talvez ame como um grande amor.
talvez ame mais como um grande amigo.
amo a ponto de sentir falta.
amo a ponto de amaldiçoar a distância.

se eu estou te esperando?
não há resposta digna para isso.
mas eu te digo: continuo sem ter medo de me decepcionar contigo.
o medo maior é que você tenha uma grande decepção comigo.

uso das lembranças,
abuso das recordações.
tudo isso para manter um leve sorriso de 'mocinha de contos de fadas' no rosto.
porque são desses 'flahs' de memória que meu Eu-lírico tira forças para falar de amor.
para ele, saber que, pelo menos uma vez na vida, foi amado verdadeiramente é o bastante.

apenas te digo: te amo.



Sâmia Maia.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Concluí que...

Cheguei a uma conclusão: eu tenho, sim, medo da morte. Não da minha morte, mas da morte de um ente querido.
Ultimamente, tornei-me amante da música. Passei de flerte à tal posto em menos de um mês. E foi criando essa intimidade com ela que surgiu essa reflexão em minha mente. Mais precisamente ouvindo Zé Ramalho.
Eu me transportei para um futuro, futuro talvez longínguo ou talvez próximo. Futuro no qual não teria, mais próximo a mim, meu pai. E que ao ouvir as letras do Zé, eu iria me lembrar de toda a minha vida e de todos os momentos e aprendizados que tive, graças ao meu querido Lobo.
Momento no qual eu me deixaria ser absorvida pelas lembranças e deixaria, se preciso, um rio de lágrimas correr rosto abaixo.
E isso não acontece só com o meu pai. Se, por exemplo, eu ouvir Jorge Vercilo, uma ponte ligará, imediatamente, meu pensamentos à imagem da minha tia (Juliana). E se ela, infelizmente, não estiver mais comigo, lágrimas também correrão.
Da mesma forma que se eu ouvir Leonardo, o vazio em mim vai acentuar-se, o vazio da falta que minha tia (Rosângela) e madrinha de crisma irá fazer.
E se eu ouvir forró antigo, do tempo de Cavalo de Pau ou Painel de Controle, da época do sucesso estourado de Mastruz com Leite e Noda de Caju, o vazio de transformará em um buraco. Não, buraco não, em um precipício na verdade. Pois, todas essas bandas me farão lembrar do meu querido tio (Reginaldo) e dançarino predileto, com quem me diverti TODOS os momentos que estive ao seu lado.
Mas nos momentos em que estiver triste, precisando de apoio, de um colo, tenho certeza que será de momentos compartilhados com qualquer uma dessas pessoas citadas, que irei me lembrar para dar o mais sincero sorriso que já fui capaz.
Algumas lições de vida aprende-se, não pela dor, e sim, pelo o amor. Alguns valores são criados em você, antes de perder algo. Explicando: há certas pessoas que têm a felicidade de aprender sem sofrer grandes decepções. Eu, por exemplo, aprendi, através de pequenas quedas, que sem minha família eu não vivo.
Falei tanto para transmitir uma idéia de apenas seis palavras. Enfim, precisava desse momento.


Sâmia Maia

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um abraço de mulher {Complementado.}

Mais um que surgiu por causa do pedido da minha prima. Texto inicial é de Rubem Braga.


Um abraço de mulher

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse’’nós não podemos descer!’’.O avião já havia chegado em São Paulo,mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado,à espera de ordem para pousar.Procurei acalmar a senhora.
Era um carma,só podia.Terceiro vôo consecutivo,Rio – São Paulo,que me acontecia algo inusitado.Primeiro,um padre que me ‘’tirara para Cristo’’,fazendo-me ouvir leituras do antigo e novo testamento durante toda a viagem.Segundo,um acionista da bolsa de valores que sentara ao meu lado e ficara com seu laptop ligado com um insuportável ‘‘bip’’ animado para avisar que o dólar havia subido e um decadente bolero de Ravel quando o valor deste descia.
Agora, essa senhora histérica. Que pessoa abominável eu fui em outra vida para merecer isso?! Precisaria acalmar aquela mulher.
– Como é,minha senhora?Por que não, podemos descer?
– O tempo... Não permite, vamos passar horas sobrevoando a pista sem poder pousar. Ai, eu vou morrer!
– Que morrer o quê mulher. Caso o tempo aqui não nos dê, mesmo, condições para pouso, nós iremos para o aeroporto mais próximo e assim que possível, voltaremos para cá.
–O senhor me garante o que dizes? Porque, eu tenho quatro filhos, eles precisam de mim.Digo até que só tem a mim,porque meu marido não vale muita coisa...
A mulher se empolgou a descrever sua família, que não podia contar e nem confiar nas noras.E os filhos já são casados? Para quê tanta preocupação, então? O nome disso,na verdade,é neura.Estressei-me.
–Senhora,não me leve a mal,mas essa sua preocupação é em vão.Cale-se e espere o momento do pouso caso queira gritar,falar,berrar,procure outra pessoa para sentar do lado.
A senhora olhava-o com os olhos não arregalados, mas, sim, esbugalhados. Resignou-se a dizer:
–É, vou esperar o pouso.



Sâmia Maia

domingo, 12 de abril de 2009

O elo partido {Complementado.}

No mesmo esquema do 'Apelo','O elo partido' surgiu. Texto inicial de Otto Lara Resende. Eis-o:

O Elo Partido

Subitamente, não sabia mais como se ata o nó da gravata. Era como se enfrentasse uma tarefa desconhecida, com que nunca tinha tido qualquer familiaridade. Recomeçou do principio. Uma vez,outra vez – e nada.Suspirou com desânimo e olhou atento aquele pedaço de pano dependurado no seu pescoço.Vagarosamente,tentou dar a primeira volta – e de novo parou,o gesto sem seqüência.Viu-se no espelho,rugas e suor na testa:a mão esquerda era a direita,a mão direita era a esquerda.
Instintivamente, talvez, cenas bizarras começaram a passar pela sua mente. Imaginou-se totalmente dependente da mãe ou de uma esposa.Transportou-se para um futuro,incerto,dia de seu casamento,no qual precisaria de sua progenitora para atar-lhe a gravata,ou teria que resignar-se a comprar uma daquelas gravatas com elástico,e assim,usaria,para sempre,a formal gravata borboleta.
Com certeza,a mais bizarra das cenas que passavam,como um filme,em sua mente foi a de um dia ter que ir a uma reunião de suma importância e ter que sair de casa,pelo menos,uma hora e meia antes para poder ir até à casa de sua mãe,que fizera tanta questão de morar o mais longe possível,para poder pedir-lhe que faça o nó de sua gravata.
Não,ele tinha que conseguir atar essa gravata.Já era um homem de trinta e cinco anos,era independente e fazia questão de manter-se assim.Ah,mas como não pensara nisso antes:o google o salvaria.Sentou-se à frente do notebook e digitou:como fazer um nó em uma gravata.Estava salvo.


Sâmia Maia

terça-feira, 7 de abril de 2009

Apelo {Complementado.}

Hoje, ou melhor, agora a pouco, me surgiu um pedido inusitado. "Priiima, me faz um favor? Termina um conto para mim? Por favooor?"
Como, de certa forma, esse é meu ponto fraco.. "Manda para eu ver, se der eu faço."
Ela me enviou o texto Apelo, de Dalton Trevisan. Eu o li e tive uma 'inspiração' instantânea.
Resultando nisso aqui:

Apelo.

Amanhã faz um mês que a senhora esta longe de casa. Primeiros dias, pra dizer a verdade, não senti falta, bom chegar a tarde,esquecido na conversa de esquina.Não foi a ausência por uma semana:o batom ainda no lenço,o prato na mesa por engano,a imagem de relance no espelho.
Com os dias, a senhora o leite primeira vez coalhou. A noticia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém o guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e ate o cenário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a ultima luz da varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora?Ás suas violeta, ns janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço meio furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
Senhora, ainda consigo te sentir tão perto, mas as evidências de sua ausência estão cada vez mais abrangentes. Não vejo outra solução senão a sua volta.
Adiantaria dizer que nenhuma outra, senhora, senhorita, viúva ou desquitada, serviria para suprir tal perda emocional sofrida pelo meu ser? Dizer que ao sair dessa casa, você levou consigo metade dela, sem nem mesmo ter cláusula de partilha de bens?
Não te peço explicação de seus motivos. Peço-te, ou melhor, apelo sua volta. Um mês nunca foi tão longo, as horas nunca passaram tão lentamente e cama à noite nunca foi tão fria. Senhora, imploro tua volta.
Mais um mês longe de ti, sem tê-la em casa, quem partirá sou eu. Partirei para um local que, teoricamente, poderei te observar por todo o dia e por diversas vezes estar do teu lado. O único lugar onde a felicidade pode ser conquistada mesmo estando sem você. Certo que essa felicidade não seria completa, mas já seria um progresso. Já que há um mês venho desacreditando na sua volta. Senhora, esse apelo foi a forma mais desesperadora que achei de te fazer entender o quanto necessito de você próximo a mim.
Apelo-te por sua volta. Imploro-te por sua presença, novamente, no meu dia-a-dia. Senhora, peço-te, encarecidamente, atenda-me.




Sâmia Maia.