segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um abraço de mulher {Complementado.}

Mais um que surgiu por causa do pedido da minha prima. Texto inicial é de Rubem Braga.


Um abraço de mulher

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse’’nós não podemos descer!’’.O avião já havia chegado em São Paulo,mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado,à espera de ordem para pousar.Procurei acalmar a senhora.
Era um carma,só podia.Terceiro vôo consecutivo,Rio – São Paulo,que me acontecia algo inusitado.Primeiro,um padre que me ‘’tirara para Cristo’’,fazendo-me ouvir leituras do antigo e novo testamento durante toda a viagem.Segundo,um acionista da bolsa de valores que sentara ao meu lado e ficara com seu laptop ligado com um insuportável ‘‘bip’’ animado para avisar que o dólar havia subido e um decadente bolero de Ravel quando o valor deste descia.
Agora, essa senhora histérica. Que pessoa abominável eu fui em outra vida para merecer isso?! Precisaria acalmar aquela mulher.
– Como é,minha senhora?Por que não, podemos descer?
– O tempo... Não permite, vamos passar horas sobrevoando a pista sem poder pousar. Ai, eu vou morrer!
– Que morrer o quê mulher. Caso o tempo aqui não nos dê, mesmo, condições para pouso, nós iremos para o aeroporto mais próximo e assim que possível, voltaremos para cá.
–O senhor me garante o que dizes? Porque, eu tenho quatro filhos, eles precisam de mim.Digo até que só tem a mim,porque meu marido não vale muita coisa...
A mulher se empolgou a descrever sua família, que não podia contar e nem confiar nas noras.E os filhos já são casados? Para quê tanta preocupação, então? O nome disso,na verdade,é neura.Estressei-me.
–Senhora,não me leve a mal,mas essa sua preocupação é em vão.Cale-se e espere o momento do pouso caso queira gritar,falar,berrar,procure outra pessoa para sentar do lado.
A senhora olhava-o com os olhos não arregalados, mas, sim, esbugalhados. Resignou-se a dizer:
–É, vou esperar o pouso.



Sâmia Maia

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