domingo, 13 de dezembro de 2009

Conto em letras garrafais

Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem, e a entregava ao mar.
Nunca recebeu uma resposta.
Mas virou um alcoólatra.


(Marina Colasanti)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Início do mês de ócio.

Tanto na cabeça. Tão pouco no papel.
Não sei se começo do começo ou se deixo o passado para o passado, me apegando, assim, ao agora.
Estava ausente das linhas. Por quê? Sei lá, talvez porque meus melhores pensamentos (lê-se pensamentos profundos) ocorram quando eu estou deitada, no escuro, esperando o sono. E algo em mim acha que se a luz for acesa, ele fugirão, como os morcegos.
Engraçado isto, não? Sempre relaciona-se grandes idéias, descobertas à luz. As minhas ligam-se ao escuro. Talvez não sejam grandes idéias, nem sequer descobertas. Mas e daí? Também escrevo de dia!
Férias. Motivo para alegria? Não para mim. Não quero falar disso.
Na verdade, nem sei sobre o quê quero falar. O que quero é me distrair, poderia ficar escrevendo um monte de coisas, mas seriam carregadas de raiva e Cia, estragaria meu texto.
Então, faremos o seguinte: eu não escreverei mais, mas pensarei. E, bem, a luz está acesa, a caneta está ao alcance da mão...

“Não chores, meu amor, tudo vai melhorar.” (Natiruts)

Sâmia Maia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Indulgência

O poder da Igreja na Idade Média era algo inquestionável. E quando tratava-se de pecado, essa autoridade multiplicava-se.
Uma mulher que traía o marido já poderia se considerar com cadeira marcada no inferno. É de um caso próximo a esse que venho falar.
A distinta mulher entra correndo na igreja, direto para o confessionário:
-Reverendíssimo, eu pequei... - a senhora inica uma crise de choro.
-Calma, senhora, diga-me seu pecado, talvez possamos contorná-lo...
-E traí meu marido, senhor Padre.
-Oh! Isto é horrível, minha filha. Mas todo ser humano tem o direito de errar uma vez, Deus entenderá.
-Foi mais de uma vez, Padre...
-Assim você se complica perante o julgamento sagrado, minha senhora, mas conte-me exatamente o que a levou a traí-lo tantas vezes, tem que haver uma explicação.
-Bom, senhor Padre, meu marido viaja muito, vende espadas e armaduras pelos vilarejos vizinhos. Sempre que parte, deixa um parente em casa para que eu não fique só. Assim, aproximei-me do irmão dele, ótimo rapaz, e dormi com ele. Uma outra vez, ele deixou um tio, homem experiente, também cedi aos desejos da carne. Mais recentemente, ele chamou 3 primos, isso tudo porque dessa vez demoraria a voltar e, bom, o senhor já sabe o que aconteceu.
-Pelo amor de Deeeus, minha filha, foram muitos! Irmão, tio, primos, você merece é fogueira por tanto sacrilégio! Sua traidora, imunda, você só pode mexer com magia negra, BRUXA, FEITICEIRA!
-Oh, não, senhor Padre, não sou maga, nada disso.
-Que você queime no fogo do inferno, pagã!
-Reverendíssimo, por favor, seja condescendente, preciso de seu perdão, e por isso, trouxe essa pequena oferenda. - tirou da saia do vestido grandes bolsas de couro, recheadas de moedas de ouro e prata.
Ao ver tamanha bondade, o padre mudou de discurso:
-Calma, minha filha, o amor de Deus é maior do que qualquer coisa. Tenho certeza de que Ele irá me conceder a benção de redimir seus pecados. Afinal, suas traições nem foram tõ graves, pelo menos a senhora foi decente o suficiente para manter-se na família, pior seria se seus amantes nem fizessem parte do clã. Está perdoada. Deixe as bolsas aos pés da cruz do altar e vá em paz. Amém.


Sâmia Maia.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Felicidade X Alegria

No livro: 'O país do Carnaval', de Jorge Amado, há uma passagem que fala da diferença entre Alegria e Felicidade. Num resumo, é isso:
Alegria só existe a dois, ou mais. Momentos alegres só acontecem quando se está com que gosta. Para se ser alegre, precisa-se de outro..
Felicidade é uma coisa íntima. Sua. Pode-se ter momentos felizes, sozinho. É uma coisa sua, independe de companhia.

Feliz era aquele que só era alegre. Porque nada pior do que se ter a felicidade em partes.
Para variar, falo de amor.
Você encontra a pessoa que se parece com seu ideal, te faz sorrir, te faz bem. Tem o poder de te desarmar, de te fazer admirar. E tem, também, pelo menos, um motivo para te fazer não se entregar por inteiro.
Ou então, outra pessoa te encontra, mas você é que dá motivos para não dar certo.
E vivemos nessa gangorra. Uma hora pende para esquerda, outra pra direita.
Isso é a felicidade em partes. Gostar de quem não se pode dar completamente a você. Ou ter alguém na ânsia de se entregar, mas você sem gostar.
No fim, não se acha a felicidade sem ter as alegrias.
'A felicidade é tudo que não se consegue e só o que se deseja.' (O País do Carnaval - Jorge Amado)




Sâmia Maia

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Comum, para todos.

Você está em casa. Noite. Deitada. Curtindo um som de barzinho. Tentando descobrir se é desânimo ou tristeza. Que mal lhe aflinge?
Nem importa, pelo menos, não importaria se soubesse do mal maior que está a caminho.
O celular toca.
AQUELA PESSOA chamando. O coração grita: 'Atende antes que ele desiste.' A razão puxa sua orelha e fala rispidamente: 'O tempo dele acabou, ligou tarde demais.'
Inicia-se aquela cena de desenho animado, o anjinho de um lado, o demônio de outro.
Quem nunca passou por isso?
O que fazer? Se alguém soubesse, tudo estaria resolvido.
O melhor, mesmo, acontece quando, em parte, você ouve a razão e deixa tocar, com o pensamento de ligar depois, mesmo que seja logo depois. E quando você for ligar a 'mulher da operadora' falar: 'Você não tem crédito suficiente para fazer esta ligação.'
O coração pode até apertar, mas a cabeça alivia.
Então, mantenha seu celular sem crédito, é mais seguro. =D



Sâmia Maia.

sábado, 25 de abril de 2009

A IMPONTUALIDADE DO AMOR.

Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha.

Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa?

Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio.

O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa.

O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito.

A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

Martha Medeiros

A saga de um vaqueiro.

Eu estava ouvindo uma coletânea de forrós antigos e uma das músicas era essa. Putz, teve uma magia quando eu ouvi a história. Não sei porquê, mas eu 'gamei' na letra. Compartilhando:

Vou pedir licença pra contar a minha história...
Como um vaqueiro tem suas perdas e suas glórias...
Mesmo sendo forte, o coração é um menino...
Que ama e chora por dentro, e segue o seu destino,
Desde cedo assumi minha paixão,
De ser vaqueiro, de ser um campeão,
Nas vaquejadas sempre fui batalhador,
Consegui respeito por ser um vencedor...

Da arquibancada uma morena me aplaudia,
Seus cabelos longos, olhos negros, sorria,
Perdi um boi naquele dia lá na pista, mas um grande amor surgia em minha vida...
Naquele dia começou o meu dilema,
Apaixonado por aquela morena,
Cada boi que eu derrubava, ela aplaudia
E eu, todo prosa, sorria...
Então começamos um namoro apaixonado,
Ela vivia na garupa do meu cavalo,
Meus planos já estavam, traçados em meu coração,
De tê-la como esposa ao pedir a sua mão,
Que tristeza abalou meu coração,
Quando seu pai negou-me sua mão,
Desprezou-me, por eu ser um vaqueiro,
Pra sua filha só queria um fazendeiro,

A gente se encontrava, sempre às escondidas,
E vivia aquele amor, proibido,
Cada novo encontro era sempre perigoso,
Mas o nosso amor era tão gostoso,
Decidimos então fugir, pra outras vaquejadas,
Queríamos seguir,
Marcamos um lugar, pra gente se encontrar,
Mas na hora marcada ela não estava lá,
Voltei em um galope,
Saí cortando vento,
Como se procura uma novilha, num relento,
E tudo em mim chorava por dentro...
E tudo em mim chorava por dentro...

Vieram me contar, que mandaram ela pra longe,
Onde o vento se esconde, e o som do berrante se desfaz
E um fruto do nosso amor,
Ela estava a esperar...
Fiquei desesperado,por tamanha maldade,
Pensei fazer desgraça, mas me controlei,
E saí pelo mundo, um vaqueiro magoado,
Só por que um dia eu amei...

Passaram muitos anos, e eu pelo mundo,
De vaquejada, em vaquejada, sempre a viajar,
Era um grande vaqueiro,mais meu coração, continuava a penar...

Um dia eu fui convidado, pra uma vaquejada,
Naquela região...
Pensei em não voltar lá, mas um bom vaqueiro,
Nunca pode vacilar,
Nunca mais soube de nada, do que lá acontecia,
Eu fugia da minha dor, e da minha agonia,
Ser sempre campeão, era a minha alegria,

Depois de dezessete anos, preparei-me pra voltar,
Como um campeão,
Queria aquele prêmio pra lavar meu coração,
Mas sabia que por lá, existia um vaqueirão,

Começou a vaquejada em uma disputa acirrada,
Eu botava o boi no chão, ele também botava,
Eu entrei na festa,
E ele lá estava,
Eu fiquei impressionado, como ele era valente,
Tão jovem e tão forte, e tão insistente,
Eu derrubava o boi,
E ele sempre a minha frente,
Chegava o grande momento, de pegar o primeiro lugar,
Os bois eram os mais fortes, ele não iria derrubar,
E sorri comigo mesmo "desta vez eu vou ganhaaar"...
Quando me preparava, para entrar na pista,
Quando olhei de lado, quase escureci a vista,
Quando vi uma mulher,
Aquela que foi a minha vida,
Segurei no meu cavalo, para não cair,
Tremi, fiquei nervoso, quando eu a vi,
Enxugando e abraçando,
O vaqueiro bem ali,


Entrei na pista como um louco,
O batisteiro a percebeu,
Andei foi longe do boi,
"Há isso nunca aconteceu!"
O Vaqueiro entrou na pista, e eu fiquei a observar,
Ela acenava, ela aplaudia,
E ele, o boi a derrubar,
Derrubou o boi na faixa,
Ganhou o primeiro lugar...

Fiquei desconsolado, envergonhado eu fiquei,
Perdi o grande prêmio,
Isso até eu nem liguei,
Mas perder aquele amor,
Há eu não me conformei,

Ela veio sorridente, em minha direção,
E trouxe o vaqueiro, pegado em sua mão,
Olhou-me nos meus olhos, falou com atenção:
"Esse é o nosso filho, que você não conheceu,
Sempre quis ser um vaqueiro, como você, um campeão,
E pela primeira vez, quer a sua Benção..."

Eu chorava, de feliz,
Abraçado, com meu filho,
Um vaqueiro, como eu, eu nunca tinha visto,
Posso confessar, "o maior prêmio,
Deus me deu..."


{Cantada pelo Forró Catuaba com Amendoim.}



Sâmia Maia

sábado, 18 de abril de 2009

Canção trovadora de amigo.

muitos podem dizer que não.
muitos podem dizer que, no máximo, talvez.
mas eu te digo: eu te amo.

te amo não sei de que forma.
talvez ame como um grande amor.
talvez ame mais como um grande amigo.
amo a ponto de sentir falta.
amo a ponto de amaldiçoar a distância.

se eu estou te esperando?
não há resposta digna para isso.
mas eu te digo: continuo sem ter medo de me decepcionar contigo.
o medo maior é que você tenha uma grande decepção comigo.

uso das lembranças,
abuso das recordações.
tudo isso para manter um leve sorriso de 'mocinha de contos de fadas' no rosto.
porque são desses 'flahs' de memória que meu Eu-lírico tira forças para falar de amor.
para ele, saber que, pelo menos uma vez na vida, foi amado verdadeiramente é o bastante.

apenas te digo: te amo.



Sâmia Maia.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Concluí que...

Cheguei a uma conclusão: eu tenho, sim, medo da morte. Não da minha morte, mas da morte de um ente querido.
Ultimamente, tornei-me amante da música. Passei de flerte à tal posto em menos de um mês. E foi criando essa intimidade com ela que surgiu essa reflexão em minha mente. Mais precisamente ouvindo Zé Ramalho.
Eu me transportei para um futuro, futuro talvez longínguo ou talvez próximo. Futuro no qual não teria, mais próximo a mim, meu pai. E que ao ouvir as letras do Zé, eu iria me lembrar de toda a minha vida e de todos os momentos e aprendizados que tive, graças ao meu querido Lobo.
Momento no qual eu me deixaria ser absorvida pelas lembranças e deixaria, se preciso, um rio de lágrimas correr rosto abaixo.
E isso não acontece só com o meu pai. Se, por exemplo, eu ouvir Jorge Vercilo, uma ponte ligará, imediatamente, meu pensamentos à imagem da minha tia (Juliana). E se ela, infelizmente, não estiver mais comigo, lágrimas também correrão.
Da mesma forma que se eu ouvir Leonardo, o vazio em mim vai acentuar-se, o vazio da falta que minha tia (Rosângela) e madrinha de crisma irá fazer.
E se eu ouvir forró antigo, do tempo de Cavalo de Pau ou Painel de Controle, da época do sucesso estourado de Mastruz com Leite e Noda de Caju, o vazio de transformará em um buraco. Não, buraco não, em um precipício na verdade. Pois, todas essas bandas me farão lembrar do meu querido tio (Reginaldo) e dançarino predileto, com quem me diverti TODOS os momentos que estive ao seu lado.
Mas nos momentos em que estiver triste, precisando de apoio, de um colo, tenho certeza que será de momentos compartilhados com qualquer uma dessas pessoas citadas, que irei me lembrar para dar o mais sincero sorriso que já fui capaz.
Algumas lições de vida aprende-se, não pela dor, e sim, pelo o amor. Alguns valores são criados em você, antes de perder algo. Explicando: há certas pessoas que têm a felicidade de aprender sem sofrer grandes decepções. Eu, por exemplo, aprendi, através de pequenas quedas, que sem minha família eu não vivo.
Falei tanto para transmitir uma idéia de apenas seis palavras. Enfim, precisava desse momento.


Sâmia Maia

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um abraço de mulher {Complementado.}

Mais um que surgiu por causa do pedido da minha prima. Texto inicial é de Rubem Braga.


Um abraço de mulher

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse’’nós não podemos descer!’’.O avião já havia chegado em São Paulo,mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado,à espera de ordem para pousar.Procurei acalmar a senhora.
Era um carma,só podia.Terceiro vôo consecutivo,Rio – São Paulo,que me acontecia algo inusitado.Primeiro,um padre que me ‘’tirara para Cristo’’,fazendo-me ouvir leituras do antigo e novo testamento durante toda a viagem.Segundo,um acionista da bolsa de valores que sentara ao meu lado e ficara com seu laptop ligado com um insuportável ‘‘bip’’ animado para avisar que o dólar havia subido e um decadente bolero de Ravel quando o valor deste descia.
Agora, essa senhora histérica. Que pessoa abominável eu fui em outra vida para merecer isso?! Precisaria acalmar aquela mulher.
– Como é,minha senhora?Por que não, podemos descer?
– O tempo... Não permite, vamos passar horas sobrevoando a pista sem poder pousar. Ai, eu vou morrer!
– Que morrer o quê mulher. Caso o tempo aqui não nos dê, mesmo, condições para pouso, nós iremos para o aeroporto mais próximo e assim que possível, voltaremos para cá.
–O senhor me garante o que dizes? Porque, eu tenho quatro filhos, eles precisam de mim.Digo até que só tem a mim,porque meu marido não vale muita coisa...
A mulher se empolgou a descrever sua família, que não podia contar e nem confiar nas noras.E os filhos já são casados? Para quê tanta preocupação, então? O nome disso,na verdade,é neura.Estressei-me.
–Senhora,não me leve a mal,mas essa sua preocupação é em vão.Cale-se e espere o momento do pouso caso queira gritar,falar,berrar,procure outra pessoa para sentar do lado.
A senhora olhava-o com os olhos não arregalados, mas, sim, esbugalhados. Resignou-se a dizer:
–É, vou esperar o pouso.



Sâmia Maia

domingo, 12 de abril de 2009

O elo partido {Complementado.}

No mesmo esquema do 'Apelo','O elo partido' surgiu. Texto inicial de Otto Lara Resende. Eis-o:

O Elo Partido

Subitamente, não sabia mais como se ata o nó da gravata. Era como se enfrentasse uma tarefa desconhecida, com que nunca tinha tido qualquer familiaridade. Recomeçou do principio. Uma vez,outra vez – e nada.Suspirou com desânimo e olhou atento aquele pedaço de pano dependurado no seu pescoço.Vagarosamente,tentou dar a primeira volta – e de novo parou,o gesto sem seqüência.Viu-se no espelho,rugas e suor na testa:a mão esquerda era a direita,a mão direita era a esquerda.
Instintivamente, talvez, cenas bizarras começaram a passar pela sua mente. Imaginou-se totalmente dependente da mãe ou de uma esposa.Transportou-se para um futuro,incerto,dia de seu casamento,no qual precisaria de sua progenitora para atar-lhe a gravata,ou teria que resignar-se a comprar uma daquelas gravatas com elástico,e assim,usaria,para sempre,a formal gravata borboleta.
Com certeza,a mais bizarra das cenas que passavam,como um filme,em sua mente foi a de um dia ter que ir a uma reunião de suma importância e ter que sair de casa,pelo menos,uma hora e meia antes para poder ir até à casa de sua mãe,que fizera tanta questão de morar o mais longe possível,para poder pedir-lhe que faça o nó de sua gravata.
Não,ele tinha que conseguir atar essa gravata.Já era um homem de trinta e cinco anos,era independente e fazia questão de manter-se assim.Ah,mas como não pensara nisso antes:o google o salvaria.Sentou-se à frente do notebook e digitou:como fazer um nó em uma gravata.Estava salvo.


Sâmia Maia

terça-feira, 7 de abril de 2009

Apelo {Complementado.}

Hoje, ou melhor, agora a pouco, me surgiu um pedido inusitado. "Priiima, me faz um favor? Termina um conto para mim? Por favooor?"
Como, de certa forma, esse é meu ponto fraco.. "Manda para eu ver, se der eu faço."
Ela me enviou o texto Apelo, de Dalton Trevisan. Eu o li e tive uma 'inspiração' instantânea.
Resultando nisso aqui:

Apelo.

Amanhã faz um mês que a senhora esta longe de casa. Primeiros dias, pra dizer a verdade, não senti falta, bom chegar a tarde,esquecido na conversa de esquina.Não foi a ausência por uma semana:o batom ainda no lenço,o prato na mesa por engano,a imagem de relance no espelho.
Com os dias, a senhora o leite primeira vez coalhou. A noticia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém o guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e ate o cenário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a ultima luz da varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora?Ás suas violeta, ns janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço meio furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.
Senhora, ainda consigo te sentir tão perto, mas as evidências de sua ausência estão cada vez mais abrangentes. Não vejo outra solução senão a sua volta.
Adiantaria dizer que nenhuma outra, senhora, senhorita, viúva ou desquitada, serviria para suprir tal perda emocional sofrida pelo meu ser? Dizer que ao sair dessa casa, você levou consigo metade dela, sem nem mesmo ter cláusula de partilha de bens?
Não te peço explicação de seus motivos. Peço-te, ou melhor, apelo sua volta. Um mês nunca foi tão longo, as horas nunca passaram tão lentamente e cama à noite nunca foi tão fria. Senhora, imploro tua volta.
Mais um mês longe de ti, sem tê-la em casa, quem partirá sou eu. Partirei para um local que, teoricamente, poderei te observar por todo o dia e por diversas vezes estar do teu lado. O único lugar onde a felicidade pode ser conquistada mesmo estando sem você. Certo que essa felicidade não seria completa, mas já seria um progresso. Já que há um mês venho desacreditando na sua volta. Senhora, esse apelo foi a forma mais desesperadora que achei de te fazer entender o quanto necessito de você próximo a mim.
Apelo-te por sua volta. Imploro-te por sua presença, novamente, no meu dia-a-dia. Senhora, peço-te, encarecidamente, atenda-me.




Sâmia Maia.

domingo, 29 de março de 2009

Véia artística?!

Estou me sentindo a Frida Kahlo¹ ;D
Nesses meus dias de ócio forçado, está aparecendo uma inspiração sem fim!
Acho que já cheguei a inventar umas 3 ou 4 histórias sem fim...

E o mais engraçado é que não é aquela idéia com validade... essas palavras aqui, por exemplo, estavam na minha mente à espera de um milagre, aliás, de uma postagem, deeesde sexta à noite.

Pois sim, deixa eu contar. Eu me encontro, como já citei, em um ócio forçado ¬¬' E disso, surgiu isso, entendes? kkkkkkkkkkkk

Nem eu. Acho que agora que eu resolvi escrever aqui, sem um mero rascunho, as palavras que estavam em minha mente desde sexta, fugiram. ;X

Desculpa, quando eu reencontrá-las, retornarei.


¹) Frida Kahlo começou a pintar seus quadros quando estava presa a um leito de hospital, se recuperando do acidente que sofreu num ônibus. Detalhe macabro: um ferro atravessou seu corpo, perfurando no baço e saindo na sua vagina. Detalhe cômico: ela morreu de pneumonia.



Sâmia Maia

segunda-feira, 23 de março de 2009

Devaneio sem data.

Para Clarice, a hora da transição de realidades, mais vulgarmente conhecida como a hora em que o indivíduo bate as botas, é chamada a Hora da Estrela.
Na hora em que minhas botas baterem, ou meu paletó se abotoar, quero que chame a Hora da Lua. 'É, a Hora da Lua chegou para ela...' Por quê? Simples. Nada a ver com a posição em que me encontrarei ao morrer, mas tudo a ver com a simples complexidade lunática.
Lua, corpo celeste que ilunima a terra à noite.
Ao longo dos meus anos, que podemos considerar poucos, usufluí da lua como um refúgio. Quando queria me encontrar ou quando queria desaparecer, era a ela que eu recorria.
Um corpo celeste, de certa forma, simples, mas possuidor de uma magia complexa, capaz de tocar o íntimo se permitido. Com sua áurea enigmática, com sua energia...seria magia? Magia negra? Não.
Bom, estou quase em devaneio. Voltando ao início, quero que ao morrer, seja a Hora da Lua, da minha lua, testemunha de meus pensamentos. Quero que ao mudar de realidade, eu possa permanecer junto à ela, sentada na areia branca de uma praia a contemplá-la, a entendê-la e a ser entendida.
Não é um caso de amor, nem de admiração, nem de dúvidas, muito menos um caso de lua, é complexo, apenas isso, complexo. Uma complexidade mútua.


Sâmia Maia

sábado, 21 de março de 2009

O julgamento de Deus.

-Iniciado o julgamento do réu Deus, acusado pelo senador Ernie Chambers. Promotor, apresente-nos suas acusações para que possamos analisar o caso da melhor maneira possível.
-Obrigado, Meritíssimo. Senhores, esse caso é muito simples. Venho a essa corte acusar o Senhor Criador por todos os desastres do mundo. Acuso-o de ser impiedoso o suficiente para não evitar os tornados e furacões que mataram milhares de pessoas, na página 5 do processo poderão ver a lista completa com seus respectivos números de mortos. Acuso-o também por deixar morrer outros milhares de pessoas, vítimas de fome e doenças. Problemas nos quais apenas Ele poderia tomar as medidas necessárias, como um milagre por exemplo, para salvar esse povo. Hoje, temos a prova de que não sou o único a ter esse parecer: não houve nenhum advogado que quisesse vir a essa corte defendê-Lo. Ele terá que fazer Sua própria defesa. Se Ele é onipresente, senhores, está, nesse momento, assistindo ao Seu próprio julgamento.
-Réu, se o Senhor está, realmente, presente nesta sala, por favor, queira manifestar-se em Sua defesa.
O silêncio pairou na corte por dois minutos, até que o advogado voltou a falar:
-Como vêem, senhores, o Réu assume a culpa. No mundo, ditado popular é uma espécie de lei ilegal e acredito que esse caso tenha peculiaridades suficientes para legalizarmos, exepcionalmente nessa sessão, um deles: quem cala concente.


Sâmia Maia

quarta-feira, 11 de março de 2009

Begin.

Quanto tempo. Mas essa semana, após longas datas sem escrever uma palavra sequer, eu comecei umas linhas dedicadas a um alguém e, para minha surpresa, ocorreu de aparecer um parágrafo que me fez pensar, mesmo sabendo que a autora tinha sido eu.
Basicamente, trata-se de um sentimento, seja ele qual for:

'[...] Talvez isto esteja ocorrendo porque há motivos, vários deles, para ocorrer, ou talvez os motivos não tenham culpa nisto e a culpa seja de uma daquelas coisas que só Freud explica. Ou talvez não seja nem uma coisa nem outra e, que, na verdade, esse sentimento é daqueles que não precisam de motivos e que ninguém tenha culpa por ele, talvez seja daqueles que simplesmente surgem, repentinamente e om uma força invejável. Infelizmente, ainda é cedo para sairmos do talvez. [...]'



Sâmia Maia